domingo, 2 de dezembro de 2012

Pais e filhos

        - Não acho motivos para não encher as paredes de meu quarto com minha personalidade!
Ela já havia insistido com essa ideia há pouco tempo, resolveu que estava crescendo e queria deixar uma marca da sua infância nas paredes, como um autorretrato da sua personalidade em suas paredes.
A menina estava descontrolada. Estava naquela idade de dez anos que nem os pais sabem o que fazer, rebelde, já se se achando adulta. Deixo ou não deixo? Pensava ele, olhando para a menina de olhos brilhantes com ambas as mãos encharcadas de tinta, era uma resposta fácil, um assunto simples.
- Não poderemos vender esta casa com as paredes pintadas.
- Vamos vender casa? - indagou a menina de cabelo castanho. Com a tinta de suas mãos pingando ao chão.
- Já está na hora de você entender que não estamos em uma boa condição financeira. - admitiu o pai.
Era verdade, o pai havia se divorciado da mãe fazia pouco tempo, estava desempregado e deprimido, teria de vender a casa rapidamente.
- E no que isso me impede de pintar as paredes?
- Depois vamos ter de pintá-las de novo.
- E qual o problema?
- Deixe de ser mimada menina, você já está crescida, consegue compreender, pegue um papel e pinte nele se quiser.  Não tem nada melhor para fazer não?
- Sim, pintar as paredes, assim elas ficarão com a minha marca e não venderemos a casa.
- Desça logo desta cama e pegue um pano para limpar a sujeira que você já fez.
A menina apenas fechou os olhos e rapidamente pegou a lata de tinta vermelha e jogou na camisa do cansado pai. Encharcando-a.
- Ora, sua, vai levar uns tapas, a camisa era nova.
- ...
A menina fugiu correndo de seu pai. Procurando outra parede para encharcar de sua personalidade. Sem perder o brilho de seus olhos.


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