quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Dance

Havíamos acabado de voltar do museu do Ipiranga quando tristemente a encontramos chorando com seus belos olhos castanhos molhados e fundos refletindo a imagem de quatro mentes revoltadas pois simplesmente não compreendiam o que estava acontecendo.
Nada que falássemos iria ajudar e dizem que atos valem mas do que palavras, sua expressão suplicava alguma surpresa, alguma coisa que a fizesse esquecer de tudo que havia passado. Então dei meu cachecol a ela e tentei compreender o que estava acontecendo e quando percebo, o chão da calçada estava coberto por cinco letras chamativas feitas com roupas, materiais, cadernos e livros "dance". Continuávamos sem compreender, a única coisa que pensamos em fazer naquele momento era colocar uma música suave no celular e dançar, e foi o que fizemos. cinco mentes dançando como se não houvesse amanhã com vários curiosos e estranhos olhares nos perseguindo apenas para que pudéssemos ver aquele rosto triste e úmido com seus olhos profundos dançasse e finalmente abrir um grande sorriso a luz da noite.

Cachecol

Novamente fui tirado da aula e novamente pelo mesmo motivo, estava causando tumulto pois estava brigando pelo meu cachecol. Como um pedaço de lã bordado traria tantos problemas para minha pessoa? Mas não era um simples pedaço de lã ; era o pedaço de lã azul, fino, comprido e já cheio de fiapos, feito pela minha bisavó materna que nunca tive o prazer de conhecer . O cachecol passou de suas mãos para as de minha vó, que o passou para minha mãe, que finalmente o passou para mim. O pedaço de lã que não era ouro, mas que para mim valia mais que qualquer metal.
O ganhei no começo do ano, não ligava muito para ele. Quando comecei a usa-lo me chamavam de hipster, gostei disso e comecei a usá-lo praticamente todo o dia, no frio e no calor , brincando com ele, jogando-o de leve na cara das pessoas... De vez em quando eles o pegavam: escondiam ou usavam e eu tinha que causar outro tumulto para pega-lo de volta, desde que não o prejudicassem, tudo bem.
Olhavam-me estranho quando o usava com 35 escaldantes graus, mas continuei a usá-lo. Dia ou sol, pois tinha fascínio por ele, lembrava-me minha família; meu pedacinho azul de lã, comprido, cheio de fiapos, meu cachecol.

Olhar para fora

Em plena aula de redação nossa famosa professora Luana nos explicava sobre técnicas de realização de crônica e no momento hei de admitir que estava devaneando quando uma frase repentina me chamou para realidade: "e além disso, para escrever uma boa crônica todos vocês devem procurar olhar para fora..."
Naquele momento mudei minha expressão para a famosa cara de ponto de interrogação; como assim olhar para fora, nós por acaso olhamos para dentro de nossas cabeças, pelo que minha pequena mente sabe, não um jeito de olhar para dentro! Nem que você esteja dormindo.
O dia passou e no caminho do ponto de ônibus até minha casa tentei "olhar para fora" e procurar algo interessante ou ao menos relevante para poder escrever sobre, após falhar nessa busca e chegar em casa, fiquei pensando: o que há de errado comigo, sou egocêntrico ou o quê, meus amigos conseguiram escrever sobre isso mas eu não, ai meu deus o que faço!? Desde então neste curto caminho do ponto de ônibus até minha casa fico tentando sucessivamente "olhar para fora.