terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Acabou? (Crônica de Paraty)


         Foi um momento tão pequeno, uma viagem curta, porém, dizem que os melhore perfumes ficam nos menores frascos.
         Aquele, definitivamente era um bom perfume, em um frasco muito pequeno, o perfume do mar, das ondas, da alegria de estarmos todos juntos, a tristeza de ter acabado.
         Alguns tiravam fotos para guardar o momento, outros brincavam, nadavam, riam , queriam que o tempo parasse, eu porém, não teria mudado nada, estava apenas observando o desenrolar da história.
         Após tudo o que passou era difícil acreditar que acabou, tudo se resumia naquele momento, todos se soltavam e riam, nadando na frente da escuna, a água dos seus corpos pingavam marcando o tempo, tudo estava calmo, decidi me juntar a eles.
         Não acabou, havia apenas começado

Bichos



    Existem de todos os tipos, para todos os tipos de pessoas; altos e baixos; gordos ou magros; ricos ou pobres; feios ou bonitos. Os bichos exóticos como bodes ou cobras, o frágil peixe ou o gordo panda. Desde o antipático hamster até o falante papagaio, ou os mais comuns, como cães e gatos.
         Novamente estávamos voltando de um passeio na minha terra natal, eu, meus pais e meu buldogue do curioso nome Baude Laire, e eu já não aguentava mais de fome. “Mãe, para o carro, minha barriguinha tá roncando”. Minha mãe virou para trás, irritada, dizendo que já iriamos parar.
         Depois de uma bela refeição, saímos do restaurante rumo ao carro. Meu pai acende um cigarro e deita-se em uma das redes do lugar, me deito com ele e fecho os olhos, quando sinto algo lambendo minha mão.
         Era um cachorro de pelagem negra, com manchas marrons e muito saltitante. Levantei-me da rede e ele começou a pular e latir e comecei a brincar com ele, que ficou mais animado. Pedi para que aguardasse enquanto liberava meu buldogue da coleira para brincar conosco, os dois começaram a se cheirar e pular em cima de mim, com as línguas para fora.
         Minha mãe chama por mim e pelo buldogue  para seguirmos viagem, pergunto se posso levar o cãozinho junto, ela responde que não, pois ele poderia ser de alguém ou ter alguma doença, além de já termos o nosso, eu subo no carro junto com meu buldogue e partimos, logo viro-me para trás, ainda consigo ver um pontinho preto, cada vez mais distante.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Pais e filhos

        - Não acho motivos para não encher as paredes de meu quarto com minha personalidade!
Ela já havia insistido com essa ideia há pouco tempo, resolveu que estava crescendo e queria deixar uma marca da sua infância nas paredes, como um autorretrato da sua personalidade em suas paredes.
A menina estava descontrolada. Estava naquela idade de dez anos que nem os pais sabem o que fazer, rebelde, já se se achando adulta. Deixo ou não deixo? Pensava ele, olhando para a menina de olhos brilhantes com ambas as mãos encharcadas de tinta, era uma resposta fácil, um assunto simples.
- Não poderemos vender esta casa com as paredes pintadas.
- Vamos vender casa? - indagou a menina de cabelo castanho. Com a tinta de suas mãos pingando ao chão.
- Já está na hora de você entender que não estamos em uma boa condição financeira. - admitiu o pai.
Era verdade, o pai havia se divorciado da mãe fazia pouco tempo, estava desempregado e deprimido, teria de vender a casa rapidamente.
- E no que isso me impede de pintar as paredes?
- Depois vamos ter de pintá-las de novo.
- E qual o problema?
- Deixe de ser mimada menina, você já está crescida, consegue compreender, pegue um papel e pinte nele se quiser.  Não tem nada melhor para fazer não?
- Sim, pintar as paredes, assim elas ficarão com a minha marca e não venderemos a casa.
- Desça logo desta cama e pegue um pano para limpar a sujeira que você já fez.
A menina apenas fechou os olhos e rapidamente pegou a lata de tinta vermelha e jogou na camisa do cansado pai. Encharcando-a.
- Ora, sua, vai levar uns tapas, a camisa era nova.
- ...
A menina fugiu correndo de seu pai. Procurando outra parede para encharcar de sua personalidade. Sem perder o brilho de seus olhos.